#01. O Peregrino Medieval
I. Começando O Caminho
Madre de Deus, ora (CSM 422)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 325
Flavit auster flatu
Codex Huelgas, fol. 45r
Non sofre Santa Maria (CSM 159)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 154
II. Montserrat
Por razon tenno d’obedecer (CSM 113)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 119
Cuncti simus concanetes
Anonymous, Llibre vermell de Montserrat, fol. 24
A madre de Jhesu-Cristo (CSM 302)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 269
III. No Caminho a Santiago
Nembresette, Madre de Deus (CSM 421)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 325r
Non é gran cousa se sabe (CSM 26)
Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 59r
IV. Compostela
Dum pater familias Anonimo
Codex Calixtinus, fol. 222
Fazer música era uma das principais actividades dos peregrinos medievais. Músicas e danças eram interpretadas durante as rotas de peregrinação como forma de reafirmação da Fé; como entretenimento durante as tediosas horas de estrada; como adoração de cada santuário e também como forma de construção de um senso de comunidade. Entre as canções dos peregrinos, eram particularmente populares as que descreviam os milagres realizados na estrada, bem como as aventuras de outros peregrinos. Essas composições ajudavam os viajantes a antecipar – através da narrativa e do canto de comunidade – os perigos da jornada. Essas peças de repertório também serviam para dissipar o medo e promover a imaginação religiosa. O programa explora esse tipo de músicas de forma vocal e instrumental. Durante o concerto, o conjunto de composições seleccionadas levará os ouvintes a uma viagem a Compostela que começa a partir do momento em que a estrada é iniciada, continua com a visita a santuários importantes, e que levará o ouvinte para o final triunfante na derradeira visita do túmulo de São Tiago.
As Cantigas de Santa Maria de Alfonso X (século XIII) hoje interpretadas, focalizam-se nas desventuras dos peregrinos e na resolução do conflito físico-espiritual após a chegada a um santuário. As formas poético-musicais da maioria das cantigas sugerem que foram cantadas e dançadas de maneira responsiva por solistas e por um grupo de pessoas: o solista cantaria as secções narrativas da peça enquanto o grupo responderia com refrões que enfatizariam a moral da história. A maioria deste reportório são canções de dança, pelo que optamos por acompanhá-las com instrumentos musicais, tal como prescrito em tratados musicais medievais e descritos na literatura da época.
O programa O PEREGRINO MEDIEVAL mostra também música instrumental que é organizada a partir de composições vocais. Os instrumentos utilizados pelo ensemble incluem a vielle (fídula medieval), a harpa, o órgão portativo, a citola (um tipo de guitarra medieval), a flauta e diferentes instrumentos de percussão, como sinos, pandeiros e nakara. A última peça do concerto é o famoso hino dos peregrinos “Dum pater famílias”, que se encontra no Codex Calixtinus, uma composição que descreve como a chegada a Santiago é celebrada por peregrinos em diferentes idiomas. A peça é principalmente em latim com expressões de fervor religioso no que se pensa ser uma língua germânica e latim (corruptio): “Erru Santiagu, grot Santiagu, e suseia e ultreia, Deus aia nos”.
Maurício Molina
I Encontro de Música Medieval de Ponte de Lima
"Caminho Português de Santiago"
Residência Artística I | Dezembro 2017
O I Encontro de Música Medieval de Ponte de Lima "Caminho Português de Santiago" é um projecto artístico pioneiro em Portugal, que procura impulsionar o tecido artístico nacional em parceria com o tecido artístico transnacional, através da criação de um Encontro Anual para o trabalho de reconstrução musical do repertório medieval, de incidência ibérica. Tem como duplo objectivo, a dinamização do património intangível constituído pelas fontes musicais medievais e do património tangível, que é o cenário da formosa Igreja Matriz de Ponte de Lima, de raiz românica.
O I Encontro teve lugar entre 19 e 22 de Dezembro de 2017 em Ponte de Lima, e reuniu 11 músicos profissionais, sob direção musical de Dr. Maurício Molina (City University of New York) e sob direção geral de Daniela Tomaz (Ensemble Med). Os músicos utilizaram instrumentos do período, trabalharam com a afinação medieval apropriada e cantarão em linha com as orientações da pronúncia deste período. O resultado foi um concerto único, dia 22 de Dezembro pelas 21h30, na medieval Igreja Matriz de Ponte de Lima, para celebrar o período da Natividade.
Daniela Tomaz